domingo, 12 de junho de 2011

O meu avô e a minha avó e a vida nos anos 50 e 60

O meu avô e a minha avó nasceram em 1940 e em 1947, respectivamente. Chamam-se Amílcar e Cidália.
Para realizar este trabalho, pedi aos meus avós que me contassem um pouco da sua história, da sua infância. E chegaram-me dois testemunhos bem interessantes:
O meu avô nasceu em 1940, numa família bastante pobre, em Pataias. Os seus pais foram trabalhar para Alcanhões, na agricultura, enquanto o meu avô, desde muito cedo, ficou a guardar gado em casa, em vez de frequentar a escola primária. Os seus dois irmãos iam para os terrenos caseiros trabalhar.
Alguns anos depois, saiu um decreto de Américo Tomás que ordenava a todos os rapazes que fossem à escola.
E assim foi. O meu avô frequentou a escola durante dois anos. Era uma escola apenas para rapazes e ele e os seus irmãos deslocavam-se a pé para lá, descalços, quer fizesse neve ou sol. Da escola primária, o meu avô lembra-se das brincadeiras: jogava-se com um pião de madeira e faziam-se corridas com aros de bicicleta.
Os alunos da escola dividiam-se em “parte de baixo da escola” e em “parte de cima da escola”. Era frequente haver cenas de pancada muito violentas entre os dois “grupos” com fisgas e material escolar. Quando chegavam a casa, nada diziam aos pais, mesmo se estivessem feridos, porque isso significaria um grande castigo.
Passados dois anos, o meu avô voltou a sair da escola e foi trabalhar para uma oficina em Alcanhões. Lá, aprendeu a arranjar carros e outras peças de engenharia.
Passado algum tempo, convidaram-no para entrar para uma equipa de ciclismo regional. Como era obrigatório ter a 4ª classe para se entrar no deporto federado, o meu avô voltou para a escola com 18 anos. Fez o serviço militar dos 21 aos 24, e depois casou com a minha avó.
A minha avó nasceu em 1947 em Santarém e depois foi viver para uma aldeia aí perto, São Domingos. Nasceu numa família com algumas posses, porque o pai era contínuo numa escola agrícola e a mãe era dona de casa e tinham um terreno onde cultivavam uma boa parte do seu sustento.
Tinha que se deslocar todos os dias 3 km para a escola, que ficava em Santarém. Apenas tirou a 4ª classe e esteve 7 anos para a tirar. A taxa de chumbo naquela altura era bastante elevada, diz ela. Era uma escola unicamente para raparigas e o material escolar era constituído por uma pedra de ardósia, onde se escrevia com uma pena. Mais tarde, passou a haver cadernos.
Brincava-se na rua, com rodas e jogos no chão, com pedras.
Depois de ter feito a 4ª classe, saiu da escola e foi aprender a bordar e a costurar. Casou com 17 anos e teve o primeiro filho aos 18.

Rodrigo Policarpo

Nenhum comentário:

Postar um comentário