Nos dias de hoje não temos consciência das dificuldades que se passavam no tempo dos nossos avós, conversei com o meu avô e descreveu-me como foi a sua infância/juventude:
Comecei muito cedo a ajudar os meus pais, com 3/4 anos já guardava ovelhas. Não havia nada com que brincássemos apenas guardávamos o gado. Quando entrei para a escola com 8 anos, fiz a 1ª e 2ª classe no mesmo ano, depois fiz a 3ª e a 4ª. Levei muitas reguadas por ajudar os meus colegas, escrevia em papelinhos e depois passava por baixo das mesas, mas a professora via sempre. Cheguei a levar 24 reguadas em cada mão, e dessa vez avisei-a que era a ultima vez que me batia, então não fiz os deveres para o dia seguinte. Antes de sair de casa para ir para a escola, esfreguei as minhas mãos com vinagre e sal, quando a professora me procurou pelos deveres disse-lhe que não os tinha feito, então ela deu-me uma reguada e a régua partiu-se! Só que depois foi pior porque bateu-me com o resto da régua que ainda tinha e deu-me uns valentes puxões de orelhas.
Mas era eu que a ajudava a ensinar os alunos da 3ª classe. Da parte da manhã os da 1ª e 2ª classe ficavam com ela numa sala, e à tarde ficavam com ela os da 4ª, e eu ficava a ensinar os da 3ª até ela nos chamar para irmos para ao pé dela.
Saí da escola com 11 anos, desde aí comecei a cuidar das ovelhas sozinho. Eram 40 ovelhas e tinha de as ir pastar para outra aldeia que ficava a 4km de distância da minha. Depois de fazer isso ainda tinha de as ordenar, coar o leite e depois fazer os queijos. Recebia dinheiro mas tinha de o entregar todo aos meus pais.
Aos 12 anos o meu pai entregou-me 80 ovelhas, tinha novamente que as ir pastar para a outra aldeia, deixava-as lá e voltava para casa com 40L de leite em cada braço. Andei até aos 18 anos só a guardar ovelhas, e não havia tempo para andar por festas, saía às vezes no sábado ou domingo à noite para ir namorar mas tinha de voltar cedo para casa, pois saía de casa antes de o sol nascer e só chegava quando ao por do sol. Fui para a tropa, depois fui obrigado a ir para a guerra do Ultramar. Voltei com 24 anos, casei-me e tive a minha primeira filha com 26.
Daniela Calmeiro
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