quinta-feira, 19 de maio de 2011

Vida até a 1950

Como todos já ouvimos falar a vida até 1950 não era nada fácil. Além de Portugal estar atrasado em relação aos outros países, a vida no Estado Novo também não era fácil (sempre em relação à vida em que vivemos hoje). Mas passemos a um caso mais concreto: o dos meus avós.
Ambos os meus avós nasceram em 1934 numa aldeia chamada Louriçal do Campo. Ambos fizeram a 4ªclasse (era máximo de escolaridade que a gente pobre atingia) e o exame da 4ª Classe em Castelo Branco, na qual a minha avó teve distinção.
A sua alimentação era pobre. O seu almoço (pequeno-almoço no nosso tempo) era constituído por:
·         Feijão-frade ou batatas cozidas com carne de porco (presunto, enchido, …), no caso da minha avó;
·         Quanto ao meu avô, também feijão-frade refogado com cebola e broa.
O Jantar (nosso almoço) era um pouco melhor embora comessem todos da mesma panela de barro:
·         Ao feijão-frade que sobrava do almoço juntava-se hortaliça para fazer uma sopa, seguida de pão, carne de porco e azeitonas (avó)
·         Caldo de feijão com couves (quando havia) e pão com toucinho, com 1\3 de sardinha ou só pão.
No caso da Ceia (Jantar), comiam em frente à lareira e era normalmente igual ao Jantar ou então:
·         Batatas cozidas com pão, azeite e vinagre ou então nada (no caso de cansaço depois do dia de trabalho)
Nos Domingos normalmente não se muda grande coisa mas era só nestes dias que se bebia café e se comia o pão de trigo (os restantes dias era há base de pão de centeio e broa)
Nos Dias de Festa como S. Fiel (que se celebra no último fim-de-semana de Agosto) comia-se outra coisa e cada um no seu prato o que não era usual:
·         Em vez carne de porco, comia-se borrego ou galinha e ainda uma sobremesa (arroz-doce)
·         Ou então arroz com peixe ou carne ou então batatas com bacalhau e arroz-doce
A roupa nas aldeias também era muito rudimentar:
·         Nas raparigas era usual blusas de chita de manga comprida; saias de fazenda; normalmente descalços (no caso da minha avó, como o seu pai foi sapateiro tinha sapatos muito apertados). Depois tinham uma roupa específica para a missa de domingo (o chamado fato domingueiro que era constituído pela melhor roupa que se tinha)
·         Nos rapazes (dias de trabalho) eram calças e camisas riscada rotas ou remendadas; botas com rasto de pneu (mais tarde). Roupa domingueira (no caso do meu avô com uns sapatos depois do exame da 4ªclasse)
Nos jogos existia tal como hoje o jogo do pião; jogo dos botões; jogo do descanso (normalmente chamado jogo da macaca); jogo da amarra; jogo do anel; etc.
·         No caso das raparigas brincava-se aos professores; mães e filhos; faziam-se bonecas de trapos e roupas para estas mesmas
·         No caso dos rapazes o futebol (com bola de trapos ou bexiga de porco); eixo (eixo espanhol e eixo “normal”); pedrada; corrida; andar com um arco.
Em termos de vida particular comêssemos com a minha avó.
Nasceu a 28 de Dezembro de 1934 na aldeia de Louriçal do Campo.
O pai morreu aos seus 9 anos nas minas da Panasqueira. Finalizou a 4ª Classe com distinção no exame em Castelo Branco no ano seguinte. Continuou afazer recados à sua professora (fonte buscar água num vaso de barro, etc.)
Mais tarde já depois de ter começado a trabalhar na horta da mãe, “aborreceu-se” desse trabalho e começou a ajudar maioritariamente nas tarefas de casa. Como tinha dois irmãos, fazia malhas (camisolas) e aprendeu a costurar para a roupa dos seus irmãos.
Não arranjou trabalho sendo doméstica.
O meu avô nasceu a 20 de Novembro de 1934 na aldeia de Louriçal do campo.
Finalizou a 4ª Classe aos 12 anos com o exame em Castelo Branco. Terminou mais tarde a 4ª classe “por causa do Codia” (alcunha do seu professor que “andava sempre às marretadas nos alunos” como diz). Tinha uma bolsa de trapos para os livros.
Trabalhou na agricultura (cavar terra “prós pés” (no campo dos outros)). Em 1947 ganhou o seu 1º ordenado (2 escudos) dado pelo seu padrinho (patrão). Mais tarde conseguiu arranjar um emprego sazonal a “esgalhar pinheiros” (limpar a rama velha dos pinheiros) a 7,5 escudos. Embora não interesse muito no trabalho pois já está fora do espaço de tempo, começou a trabalhar no exército no ano de 1955.

 

 
Nesta fotografia podemos observar a família da minha avó quando esta tinha 7/8 anos.


Rodrigo  Baptista

Nenhum comentário:

Postar um comentário